Podemos dizer que 2015 foi bom, sim, para a música sertaneja, se considerarmos os problemas pelos quais o país passou durante o ano.
Naturalmente, por questões financeiras gerais, os cachês precisaram se ajustar, algumas festas e contratantes tiveram dificuldades, mas na questão de relevância e predominância musical, continua tudo como nos outros anos.
Houve hits de duplas novas (“Farra, pinga e foguete”), artistas reiterando a grande força do ano anterior (Henrique e Juliano), o maior palco do mundo (Villa Mix), um festival sertanejo novo (“Brahma Valley)”, e um também na Globo (“Festeja Brasil”), Michel Teló campeão do “The Voice”, e Marciano se unindo a Milionário.
Dava pra fazer um retrospectiva completinha com 100 notas, mas preferi escolher sete assuntos que traduzem bem o que aconteceu na nossa música sertaneja em 2015.
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O ano começou com uma surpresa na real definição da palavra. Depois de muito tentar, trabalhar, e principalmente se desprender da pecha de “dupla que saiu com problema do escritório antigo”, Henrique e Diego deixaram de bater na trave.
Além de fechar o ano entre as mais tocadas, “Suíte 14” é marcante por ter ajudado a manter a boa tradição de ao menos uma dupla nova ascender por ano.
O melhor ano da carreira dos cantores não aconteceu por acaso. Por trás, eles têm Du Maluf, empresário que já era bem sucedido com música sertaneja, e estava nos últimos anos mais focado em seus negócios com futebol, Maurício Mello, compositor de “Suíte 14” e responsável pelo repertório da dupla, e Dudu Borges, que talvez fosse o que faltava, dando uma cara mais original a eles.
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Falando em sucesso, nada em 2015 chegou perto do “Cabaré”. Não havia muitas dúvidas de que juntar Leonardo e Eduardo Costa resultaria em algo divertido, mas ninguém imaginava que a ideia arrastaria tanta gente, daria tanto dinheiro e viraria o projeto principal da carreira de ambos (era pra ser algo paralelo).
No início do ano, quando os shows começaram de maneira lenta, a desconfiança era grande por conta dos valores pedidos (algo em torno de R$300 mil). A impressão inicial mudou por conta do público, que simplesmente passou a praticamente lotar todas as apresentações.
O “Cabaré” é importante porque enterra o papo furado de que só artista novo é capaz de impactar o mercado e de fazer altas bilheterias. Leonardo com seus mais de 30 anos de carreira, ao lado de Eduardo, cria da geração do amigo e sócio, colocaram quase todos os artistas da nova geração no bolso.
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Tem gente que pensa passo por passo, cuidadosamente, para que a carreira não saia do controle. E não é que funciona?
Luan Santana teve um ano indiscutível. Chegou a um ponto em que se você tenta apontar um erro, há um caminhão de argumentos pra provar que você está errado. Ele é o artista nacional de maior força na mídia, por isso mesmo é destaque em todos os principais programas da TV. Sem falar no batalhão de fãs nas redes sociais.
Além de números como a música mais tocada ou o clipe mais visto do ano (“Escreve aí”), e de ter lançado o melhor trabalho da carreira (“Acústico”), o jogo de cintura nos bastidores também foi importante. Por ter seu escritório sozinho, pôde jogar de todos os lados, tocar em eventos concorrentes e deixar claro que seu único negócio é música.
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Jorge e Mateus comemoraram 10 anos da carreira mais bem sucedida da nova geração. Mas o marcante mesmo foi o DVD que comemorou essa primeira década de vida. Gravado no estádio Mané Garrincha, em Brasília, o DVD é uma demonstração de força e um registro histórico da popularidade que uma dupla sertaneja conseguiu alcançar.
Acho engraçado, no sentido irônico, que algumas pessoas, muitas delas do mercado, procurem algum defeito para criticar a dupla, ou comemorem por motivos errados o surgimento de outros nomes que sigam os passos deles (como muita gente fez se aproveitando do sucesso de Henrique e Juliano). Não há um artista no Brasil, nos últimos 10 anos, que chegue perto dos números da dupla, e isso é 100% positivo pra música sertaneja.
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Foi um ano terrível de perdas. Os jovens se assustaram com a perda repentina e trágica de um ídolo, fazendo lembrar da época do João Paulo. A morte de Cristiano Araújo foi pesada para a nova geração, mas foi também cruel para a imprensa. O jornalismo passou vergonha, cobriu mal, deu informações erradas e tentou justificar seus erros acusando Cristiano de ser “pouco conhecido”.
A passagem dele deu mais repercussão, mas foi tão dolorida quanto as perdas do José Rico, uma das figuras mais emblemáticas, queridas e talentosas que tivemos, e de Inezita Barroso, que simplesmente viveu para defender a cultura caipira.
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O que Wesley Safadão tem a ver com a gente?
Tem a ver que ele foi o artista de outro gênero mais inteligente até o momento para usar um mercado que não é o dele. O mercado, no caso, sertanejo.
Safadão, do ano passado pra cá, gravou uma infinidade de parcerias com sertanejos. Dá pra fazer, facilmente, um CD duplo só de participações. Quem tanto trabalha e quem tanto se ajuda, um dia, dá “sorte”. Marcos e Belutti não só o convidaram pra uma canção (Aquele 1%), como a transformam em música de trabalho. E rádio sertaneja era justamente o que faltava pra ele entrar com os dois pés em outros estados brasileiros. Um cara sem frescuras, fácil de trabalhar e carismático. Boa lição pra muitos artistas.
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Em resumo: Garth Brooks veio pra Barretos, não cobrou cachê, não cobrou transporte e não deixou nem sequer pagarem suas garrafas de água. Fez um bate e volta. Deixou toda a renda do show para o Hospital de Câncer de Barretos.